Escola – qualificação da vida e da convivência pacífica
11 de agosto de 2025 - 08:54 #artigo #CEE #convivência pacífica #Escola #qualificação da vida
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O mês de agosto é marcado por datas importantes para o calendário escolar como o Dia do Estudante e, também, o Dia dos Pais que, tal qual o Dia das Mães (em maio) deveriam constar no contexto escolar como um marco de profundas leituras e conversas sobre convivência familiar. Família aqui entendida em seu sentido mais amplo e atual. É que a escola, para cumprir sua função social, deve também assumir seu papel de fórum da cidadania e debater temas sociais gerados pela evolução dos costumes. A relação familiar, é notório, tem sido alvo de importantes impactos comportamentais, seja de ordem econômica ou cultural e merece reflexão.
Os impactos comportamentais envolvem a transformação do modelo de família, cada vez mais diverso e plural. Além da tradicional (a nuclear), há a monoparental, caracterizada pela responsabilidade de sustento e criação dos filhos de apenas uma única pessoa, ou pai ou mãe; a homoafetiva, constituída por casais do mesmo sexo; as famílias formadas por casais com filhos de casamentos anteriores (os seus filhos mais os meus filhos e os nossos filhos), chamadas compostas; e existem as anaparentais em que parentes (primos, sobrinhos, tios, irmãos) convivem em um lar sem a presença dos pais, entre outras.
Então, para iniciar nossa breve reflexão, precisamos pensar no que representam hoje datas como o Dia das Mães e o Dia dos Pais. Abrigo, aconchego, doçura, fortaleza do amor, o Dia das Mães costuma associar a figura da mãe a uma percepção social do cuidar e do nutrir. Uma data a qual o calendário escolar devota todo o mês de maio à manifestação amorosa dos estudantes em homenagem à maternidade. Por sua vez, comemorado no mês de agosto, o Dia dos Pais costuma associar a figura do pai à provisão e à proteção. Um estimula à manifestação de gratidão e amor; o outro, à de admiração e respeito. Eis os respectivos arquétipos das datas dos segundos domingos de maio e de agosto. O que promove uma severa exclusão de modelos contemporâneos de família, daí, já proponho criar uma outra denominação para esses dias tão importantes — transformados em dia da família para não constranger quem não conta com a presença dessas pessoas em suas vidas.
Em vez de referir o dia como: das Mães ou dos Pais, sugiro denominá-los como Dia da Maternagem e Dia da Paternagem, pois há muito que o papel social de mãe e, sobretudo, de pai deixou de ser uma atribuição, respectivamente, só da mulher ou só do homem. Haja vista inúmeros casos de mães solo, em que as mulheres assumem ambos os papéis, bem como já haver muitos casos de pais solo, em que homens se viram nos trinta para dar conta da criação de filhos e filhas. Ambos, portanto, assumem a responsabilidade total pelos cuidados e bem-estar dos filhos.
Ambos enfrentam desafios inerentes à sua formação social, por exemplo, lidar com a falta de modelos femininos (no caso dos pais) ou com a falta de modelos masculinos (no caso das mães) para os filhos e filhas. Eis uma situação social cada vez mais frequente nas pesquisas censitárias. Consta, no Censo de 2022, que 16,5% (11.966.191,38) dos 72.522.372 domicílios brasileiros são compostos de mães ou pais solos. É um número considerável e que tende a crescer. Já é hora de a escola aprimorar a proposta de homenagem às mães e aos pais, prevista em seu calendário.
A escola precisa assumir seu papel de fórum para pensar as questões contemporâneas da sociedade, conforme preconiza o Conselho Estadual da Educação na Resolução CEE 514/2024, em seu art. 13:
Art. 13. As instituições educacionais devem estabelecer diálogos e parcerias com a comunidade, visando à produção de conhecimentos sobre condições socioeducacionais locais e regionais, assim como, intervenções para a qualificação da vida e da convivência pacífica.
Uma alternativa para o caso em questão seria aproveitar os meses de maio e agosto para cumprir momentos de escuta da família, para ler, estudar e trabalhar a maternagem e a paternagem. Que maravilhoso seria “pais” e “mães” poderem participar de oficinas conduzidas por filhos e filhas. Oficinas elaboradas pelos estudantes, capacitados na escola com a devida orientação de professores e demais profissionais (psicólogos, assistentes sociais, advogados e convidados a dar testemunhos de sua vivência). Oficinas para melhorar habilidades de “pais” e “mães” visando construir relacionamentos mais fortes com seus filhos.
Nessas datas comemorativas da maternagem e da paternagem, a escola bem poderia lançar uma programação de cursos, workshops, seminários para estudar com a família a sua circunstância social, e, com base nesse estudo, os participantes elaborassem projetos com a finalidade de promover a educação para a mudança e a transformação social, fundamentada em princípios como: a dignidade humana, a igualdade e equidade de direitos, o reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades, a reciprocidade, horizontalidade e empatia, a laicidade do Estado, a democracia na educação, a transversalidade, vivência e globalidade; e sustentabilidade socioambiental, em conformidade com o art. 5º da Resolução CEE 514/2024.
Dessa programação temática de cursos, workshops e seminários, adviriam projetos (propostos pela comunidade escolar: família e escola) a serem executados no segundo semestre, e cujos resultados poderiam ser apresentados e avaliados no ano seguinte durante as homenagens de maio e agosto, sendo a sua culminância anunciada durante os festejos ao Dia do Estudante, momento em que se lançariam novos projetos. Assim a escola cumpre seu papel de fórum social promotor do desenvolvimento das competências socioemocionais, da reflexão acerca dos valores humanos, da qualificação da vida e da convivência social.
Por Kelsen Bravos (Professor e membro da equipe do CEE)