A cada dia, dez turmas de EJA são fechadas no país

3 de novembro de 2014 - 11:29

A cada dia, dez turmas de EJA são fechadas no país

Reverter esse quadro pressupõe analisar o modelo atual e buscar alternativas condizentes com a realidade dos estudantes

Entre 2009 e 2013, 14.581 turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) foram desativadas no Brasil, segundo o Censo Escolar. O dado equivale a dez salas fechadas por dia e a uma queda de 9% na oferta existente. Alarmantes, os números são reflexo do círculo vicioso em que a modalidade ingressou nos últimos anos. De um lado, gestores públicos reclamam dos altos índices de evasão e afirmam ser muito custoso manter turmas pequenas. De outro, alunos se deparam com cada vez menos opções e desistem.

Os maiores problemas se concentram nas regiões Sul e Sudeste – ambas fecharam 21% das turmas de EJA em quatro anos. Em seguida, está o Centro-Oeste, com 7%, e o Nordeste, com 3%. A exceção é o Norte, que, em vez de diminuir, aumentou as salas em 12%.

Não há como dizer que a redução no número de salas é resultado de uma queda na demanda. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2012, há no Brasil 12,7 milhões de analfabetos, entre a população de 25 anos ou mais (equivalente a 11%). Além deles, existe um grande contingente de brasileiros que não conseguiu concluir o Ensino Fundamental e precisa de opções para voltar à escola.

resposta, então, está em uma questão de gestão de recursos. Como 70% dos alunos que ingressam na EJA não conseguem concluir os estudos, as redes optam pela nucleação: as salas pequenas de diferentes escolas são extintas e a demanda se concentra em uma única unidade, que recebe todos os estudantes de bairros próximos.

A medida é vista como negativa por especialistas. Um dos problemas é a distância entre a escola e a casa do aluno. A maioria trabalha o dia todo e depende do transporte público para se locomover. Se as aulas são transferidas para uma instituição de ensino mais distante, a pessoa nem sempre consegue chegar a tempo ou arcar com os custos do deslocamento. Soma-se a isso a desmotivação que interrupções e mudanças causam nesse aluno, geralmente alguém que nunca conseguiu estudar ou que é marcado pelo fracasso, por ter ingressado na escola e desistido dela. Há ainda o agravante de a nucleação lotar as poucas salas disponíveis, dificultando o trabalho docente.

Investigar as causas da evasão pode evitar o fechamento das turmas

Melhor do que fechar as turmas é entender as causas da evasão e procurar alternativas para minimizá-las. Parte do problema reflete a natureza da modalidade: muitos mudam de cidade por causa de trabalho, algumas engravidam e têm de sair etc. Mas outra é relativa a questões que demandam resposta. A maneira como a EJA está organizada, ainda atrelada a estruturas da escola regular, merece revisão. Nem todos os estudantes conseguem estudar quatro horas por dia, à noite. É preciso haver opções, como aulas nos fins de semana e jornadas mais abertas. Rever a formação dos docentes que trabalham na área também se mostra fundamental, assim como avaliar os currículos de modo a aproximá-los das necessidades dos diferentes perfis de aluno que compõem a modalidade, desde adolescentes até idosos.

Devem entrar na lista, ainda, alguns aspectos logísticos: garantir funcionários para abrir a escola fora do turno regular, organizar os horários da equipe de educadores e disponibilizar material adequado para as aulas, entre outros.

Olhando apenas a questão financeira e comparando a EJA à escola regular, parece que a conta não fecha: muito investimento em turmas nem sempre cheias. O ponto é que a modalidade tem de ser pensada sob uma lógica diferente. Como mostra a pesquisa Educação de Jovens e Adultos: Insumos, Processos e Resultados, da ONG Ação Educativa, “faz-se necessário avançar no entendimento da EJA como política de ação afirmativa, ou seja, entender sua natureza de resposta a um conjunto de desigualdades persistentes e estruturais, não superadas ou mesmo alimentadas pelas políticas universais de Educação”.

REVISTA NOVA ESCOLA – ANO 29 N°273 JUNHO/JULHO 2014