Sonho em movimento

15 de setembro de 2014 - 11:18

A vida escolar nos presenteia com professores especiais, desses que ganham afeto, admiração e um lugar generoso na memória. Jordana Carneiro se encaixa nesse perfil. Quem adentra a EMEIF Dom Aloísio Lorscheider, no bairro Praia do Futuro, descobre 22 alunas no meio de coreografias marcadas com passos de dança, saltos, alongamentos, giros e piruetas. É que Jordana dá aulas de Educação Física na instituição e coordena um projeto voluntário de Ginástica Rítmica.

A beleza, a plasticidade e a expressividade da modalidade esportiva conquistaram a professora durante as aulas do curso de Educação Física que cursou na Universidade Federal do Ceará (UFC). O arrebatamento floresceu e, hoje, especializada em Ginástica Rítmica pela Universidade Norte do Paraná (Unopar), Jordana forma outras novas apaixonadas.

“É isso que eu amo fazer”, decide. A professora dá aulas para 13 turmas da Escola Dom Aloísio Lorscheider e ministra a formação voluntária nos horários de planejamento das aulas. “Na primeira aula, eu já falo que precisa de muita dedicação e muito compromisso. O esporte agrega valores e se a criança se apaixona, ela os leva pra vida inteira”.

Com idades entre 8 e 13 anos, as alunas da rede municipal de ensino têm treinos semanais de técnicas do esporte e nutrem o sonho de serem grandes ginastas. A prática reúne infinitas possibilidades de movimentos corporais combinados aos elementos de balé e da dança teatral. Há ainda o manejo dos aparelhos próprios da modalidade olímpica: corda, arco, bola, maças e fitas.

“Ela é paciente e carinhosa com a gente. Ensina muita coisa linda”, elogia Natiele Ferreira, 9, que pratica o esporte há mais de um ano e exibe, vaidosa, movimentos que declaram sua elasticidade. Durante a visita do O POVO, as alunas do projeto apresentaram a performance elaborada para a homenagem ao Dia dos Pais. “Eu gosto muito de me apresentar. Quase todas as vezes que minha mãe me vê, ela chora”, afirma Raquel Rebouças, que integra o projeto. Com sorriso no rosto, olhos maquiados e collants decorados, cada uma delas mostra a dedicação nas combinações de movimentos.

“Eu acabo levando o trabalho pra casa para poder dar continuidade ao projeto. Tenho uma turma pela manhã e outra à tarde, e é necessário que haja uma quantidade razoável de aulas para que elas possam desenvolver as técnicas”, explica Jordana. A educadora física lamenta a falta de tempo e a limitação da quantidade de alunas. “Muitas crianças querem participar. Por mim eu envolveria muito mais alunos, mas não posso”, afirma.

A aluna Ângela Nicole Soares relembra que, antes de participar do projeto, as notas e o comportamento escolar não eram dos melhores. “Hoje eu tenho notas boas e sou comportada na hora da aula”, conta. Para a diretora da escola, Marilene Feitosa, o trabalho é louvável e gratificante. “O desenvolvimento não é só do corpo, mas da capacidade de respeito, socialização e questionamento. A dança em si desenvolve vários outros os potenciais”.

A professora Jordana também acompanha o desempenho escolar de cada uma de suas meninas, como costuma dizer. Olha boletim, avalia frequência e dialoga com os outros professores e os pais. “O que eu vejo é que eu tiro elas do risco social, elas saem da rua pra cá, estudam num horário e treinam no outro. São valores de respeito e companheirismo”, ensina.

Patrocínio
Atualmente a ação não conta com patrocínio. Todos os aparelhos foram comprados por Jordana. Além disso, é a professora quem desenha o modelo dos collants que são usados nas apresentações. Ela mostra orgulhosa as miçangas e aviamentos que usou para decorar os uniformes. “Seria muito interessante um patrocínio para elas. Para ter um material de treino melhor. É um esporte caro e os aparelhos não são vendidos no Ceará”, afirma. Além disso, há as despesas das inscrições nos torneios dos quais o projeto participa.

Jordana ressalta que conta, no entanto, com o apoio dos colegas professores. “Eu exponho o problema e eles fazem uma ‘cotinha’ para adquirir materiais para as alunas”, afirma.

Quando questionada sobre a falta de apoio financeiro, Jordana é categórica: “Eu ganho sim, ganho o sorriso delas, o brilho nos olhos. Hoje elas têm autoestima. Hoje elas têm com o que sonhar”. E se não der certo ser uma ginasta? As meninas têm a resposta na ponta da língua: “Quero ser igual à tia Jordana!”.

 

Fonte: O Povo