Escola de tempo integral avança, mas ainda apresenta desafio

8 de setembro de 2014 - 12:33

Especialistas apontam o acesso ao ensino em tempo integral como meio para mudança na educação brasileira:

O Ceará alcançou o índice de 43,6% das escolas públicas com matrículas em tempo integral no ano de 2013. Essa modalidade – além de prever a permanência das crianças e adolescentes por sete horas ou mais nas instituições – busca oferecer um projeto que englobe cultura, arte, esporte, ciências, tecnologia e as disciplinas do currículo regular. Em 2012, no Estado, o percentual de escolas com pelo menos uma matrícula em tempo integral foi de 32,3%.

Os números completos estão disponíveis no Observatório do PNE – plataforma online que coleta dados do Censo Escolar, do Todos pela Educação, do Ministério da Educação (MEC) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Desafio

Apresar do crescimento no número de matrículas, a educação em tempo integral ainda é um desafio. O Plano Nacional de Educação (PNE) – documento que norteia as diretrizes e metas educacionais do País pelos próximos dez anos – estabelece que é necessário oferecer tempo integral em 50% das escolas públicas e atender 25% dos alunos matriculados no nível básico. Tido como a grande aposta para mudança na educação brasileira, o ensino integral tem pautado propostas de pretendentes aos cargos no executivo. No Ceará, os quatro candidatos ao Governo apresentaram projetos para a ampliação e fortalecimento da área.

O avançar da oferta em tempo integral, entretanto, precisa de atenção. No Ceará, em 2013, foram 18,3% das matrículas em tempo integral nas redes municipal e estadual. Os dois anos, 2012 e 2011, anteriores tinham registrado os percentuais de 12% e 9,8%. respectivamente. Apesar de ainda não ser a oferta considerada ideal, os índices cearenses superam a média nacional. O Brasil teve 13,2% dos alunos matriculados em tempo integral durante o ano de 2013, 9% em 2012 e 8,2 em 2011.

Se for considerado somente o ensino médio, a rede estadual tem 41.358 alunos (cerca de 9% do total) matriculados em instituições de tempo integral. Existem 104 Escolas Estaduais de Educação Profissional (EEEPs) – divididas em 82 cidades cearenses – e mais o Colégio Estadual Justiniano de Serpa, em Fortaleza. A rede estadual é formada por 668 escolas. (ver quadro).

Qualidade

Conforme Carmensita Passos, professora da Faculdade de Educação (Faced/UFC) e coordenadora institucional do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), para a formação ser considerada integral é necessário ter melhores condições de ensino, melhores espaços, experiências de aprendizagem mais ricas e diversificadas. “Tempo integral deve significar formação integral, que envolve o educando em todas as suas dimensões. Não apenas a cognitiva, mas também sua dimensão emocional, afetiva, ética, motora. Ensino com o aluno sentado, ouvindo, copiando, não resultará na qualidade de educação que almejamos para todos”, explica.

Isabel Santana, superintendente da Função Itaú Social, dialoga com esse pensamento: “A extensão de tempo é necessária, mas não é suficiente. Hoje, temos a maioria das escolas com quatro horas de aula. Sabemos que é bom para a formação e para o desenvolvimento da criança ficar exposta por mais tempo a situações intencionais de aprendizagem. É necessário, sim, ter um processo e uma proposta pedagógica para ajudar no aprendizado do currículo formal – do português, da matemática, das ciências, da história, da geografia. É bom para a formação e para o futuro desses jovens. Mas não é só isso. Existem outras dimensões, ligadas ao esporte e à arte, que precisam ser aproximados das crianças e dos adolescentes através da educação integral”.

Serviço

Estatísticas sobre as 20 metas do PNE:. http://www.observatoriodopne.org.br/

Saiba mais

Grade integrada
Para o psicólogo e mestre em Educação Marco Aurélio Patrício, os índices educacionais vêm melhorando, mas o crescimento acontece lentamente e o tempo integral seria uma solução viável para alavancar as mudanças. Uma ponderação, entretanto, é trabalhar a grade curricular de maneira inteligente. “Não é oferecer mais aulas. O tempo integral tem que ser usado de maneira inteligente. Com grade comum e grade personalizada. Não pode ser só conteúdo. É preciso reforço, lazer, esporte, arte. O que discutimos é como fazer esse tempo integral ser inteligente”, afirma Marco

Instituições

Isabel Santana, superintendente da Fundação Itaú Social, explica que a educação em tempo integral pode ser ofertado não apenas nas escolas, mas através de instituições que possam oferecer situações intencionais de aprendizagem para as crianças. “Os alunos podem ser um turno na escola e o contraturno em instituições. É uma solução viável e não seria necessário dobrar a estrutura das escolas”

Mais Educação

O Governo Federal implantou o Mais Educação – estratégia para indução da educação integral, aproximando a jornada diária para sete horas. São ofertadas atividades no contraturno em educação ambiental, esporte, lazer, direitos humanos, cultura, artes, promoção da saúde, comunicação e uso de mídias. O programa é um dos responsáveis pelo aumento dos índices de matrículas em tempo integral no Brasil.

 

Fonte: O Povo