Quem de fato atrapalha a educação?

28 de setembro de 2021 - 13:00 # # #

Fernando Brito - Assessoria de Comunicação - (85) 3101.2017 / 9.9910.3443
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Recentemente, fomos surpreendidos com a desastrosa fala do Ministro da Educação, afirmando que alunos com deficiência atrapalham dentro da sala de aula, indo na contramão das atuais concepções pedagógicas e psicológicas que explicam o desenvolvimento humano e os processos de aprendizagem a partir da valorização das interações sociais e entendem a diferença como um valor pedagógico fundamental para o desempenho cognitivo e social. Na fala, resta expresso que classes e escolas especiais são para aqueles que não atendem a capacidade padrão, definindo a pessoa pelo atributo da deficiência, numa visão centrada na incapacidade e no capacitismo favorecendo o movimento de intolerância às diferenças humanas.

Por trás da manifestação, existe a ênfase no modelo médico da deficiência, desmerecendo o modelo social que valoriza a interação e a quebra das barreiras com o ambiente propondo modificações justas e adequadas às necessidades das pessoas com deficiência. A fala tira o foco da necessidade de políticas públicas e investimentos na qualificação dos sistemas de ensino, em programas e serviços de apoio, na formação dos professores e em práticas pedagógicas diversificadas. Fortalece um sistema segregado, voltando a ideia, já superada, de educação especial como substitutiva da educação comum. A escola deve ser vista como um bem de todos e não de alguns e, como tal, deve ser preparada, reconhecendo, identificando e valorizando o potencial de cada sujeito. Importante dizer que a fala do Ministro destoa das orientações do atual ordenamento jurídico no qual não cabe retrocessos ou adequações que naturalizem equívocos de más gestões e práticas violadoras de direitos.

Ademais, não leva em conta os avanços qualitativos e quantitativos advindos do crescimento da inclusão e das matrículas dos alunos com deficiência na escola regular nos últimos anos. Sr. ministro! inclusão é condição inequívoca para o fortalecimento de uma sociedade democrática que acolhe segmentos desfavorecidos. Falas como a sua, mais do que uma manifestação de preconceito e atraso, atrapalham e retardam os avanços necessários a educação do nosso país.

Selene Penaforte
Doutora em Educação
Conselheira do Conselho Estadual de Educação
Superintendente da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco